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quinta-feira, 7 de novembro de 2013


A CAÇADA.
Conto de Lygia Fagundes Telles.
RESUMO:
POR: Jurandir Matias de Araújo.

Um homem e uma velha. Ele supostamente já havia frequentado o antiquário antes, ela supostamente a dona da loja. Tudo começa quando ele entra na loja e toca com as pontas dos dedos uma pilha de quadros, observa o ambiente e assiste o vou de uma mariposa que choca-se numa imagem de mãos decepadas. O homem acha a imagem bonita e a velha diz que é um são francisco. Entregando sua familiaridade com o lugar, ele lentamente se volta para uma peça de tapete que orna toda a parede do fundo do antiquário.
Se aproxima compassadamente do tapete, numa contemplação mística e misteriosa. A velha percebe e lamenta o interesse do homem, pois não podia vender aquela peça desgastada do tempo e carcomida pelas traças. O observador estendeu a mão, mas não conseguiu tocar a velharia, logo, disfarçando, dirigiu uma exclamação à mulher: - Parece mais nítida hoje! Ela lamentou o equívoco, mas o homem insistiu perguntando: - A senhora passou alguma coisa nele? Desconfiada, a velha disse que não e contou para ele que havia comprado o tapete de um estranho que precisava dinheiro.
A cena retratava uma caçada, motivo do deslumbramento do homem que respirava ofegante diante do senário retratado e do olhar desconfiado da senhora que saia disfarçadamente pedindo que ele ficasse a vontade, pois iria fazer um chá.
Na contemplação embevecente, o homem sentia fazer parte daquela cena, e naquele estupor, sentia os cheiros, a temperatura e a densidade do cenário que o puxava para si misticamente. Sua mente perturbada, duvidava de uma certeza insinuosa e o espectador se perguntava confuso: - será que eu era a caça ou o caçador ou o pintor da obra? Chegou a sentir o arquejar da caça supostamente escondida atrás de uma muita.
A alucinação o fez ter calafrios, recuou alguns passos num tipo de convencimento de que fazia parte inevitavelmente daquela caçada insinuosa. Indagou-se atordoado: - se odeio caçadas, porque estaria dento desta? Apertou o lenço contra a boca que principiava uma náusea que queria despejar aquela forte familiaridade com a cena do tapete.
De repente, sua cabeça vergou-se para trás, como se alguém a tivesse puxado. O estuporado assustou-se na exagerância de sua fascinação. Saiu da loja, vagou pelas ruas, entrou num cinema, sentiu-se moído como se tivesse tomado uma surra, voltou ao antiquário e deu com as portas fechadas, mesmo assim, achatou a cara assustada e cansada na vitrina e olhou o tapete impiedoso. Foi para casa, deitou-se de bruços e olhos fixos da escuridão do quarto. Entorpecido, abraçou-se com o delírio diurno e chegou a ouviu as palavras desdenhosas da velha entoadas com risadas abafadas de traças. Indagou incrédulo uma suposta loucura.
Cedinho chegou à loja de antiguidade e se deparou com o muxoxo da velha que não se incomodava mais com a estranheza dele. Adentrou, parou diante do tapete, sentiu mais fortemente o cheiro do mato e o frio da madrugada da cena misteriosa. Quando de repente, como que arrancado da realidade, viu os cenários se fundirem. A loja e a pintura no tapete, eram a mesma coisa e ele se viu por entre as árvores, se sentindo hora a caça, hora o caçador. Tentou recuar, mas não conseguiu, estava inevitavelmente dentro da cena. Sentiu desejo enorme de correr, viu a moita e mergulhou nela. Colocou as mãos no rosto abrasado, abriu a boca e lembrou-se! Gritou quando ouviu o assovio da seta ferindo a folhagem.
A dor pontiaguda desferiu-lhe! Gritou um não dolorido e gemeu de joelhos, tentou ainda agarrar-se a tapeçaria, mas rolou encolhido com a mão no coração.
Morreu!



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